segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O homem - por Vítor Hugo


“O homem, essa enfermidade, essa sombra, esse átomo, esse grão de areia, essa gota de água, essa lágrima caída dos olhos do destino; o homem que vive na perturbação e na dúvida, sabendo pouco do dia de ontem e nada do dia de amanhã, vendo no caminho o necessário para pousar os pés e o resto em trevas; trémulo, se olha para diante, triste, se olha para trás; o homem, envolto nessas obscuridades—o tempo, o espaço, o ser, - e nelas perdido, tendo em si um abismo—a sua alma—e fora de si o céu; o homem, que em certas horas se curva com uma espécie de horror sagrado a todos os esforços da natureza, ao ruído do mar, ao irradiar das estrelas; o homem, que não pode levantar a cabeça de dia sem que a luz o cegue, de noite sem que o perturbe o infinito; o homem, que nada conhece, nada vê, nada entende; que pode ser levado amanhã, hoje, agora mesmo pela onda que passa, pelo vento que soa; o homem, esse ser, tímido insecto, miserável servo do acaso, o ludíbrio do minuto que passa; o homem, humilde verme da terra, quer destruir as obras de Deus e impugnar a religião que regou com o seu sangue, que ele selou com a sua morte e à qual prometeu a sua assistência!

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